Pesadelo.


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                             Tiago: Primeiro dia. - Capítulo 1.



          Estava escuro, não conseguia respirar, não importava para onde eu olhava, não conseguia ver nada. Tentava sair daquele lugar, mas meu corpo não respondia, o medo me deixava imóvel, tinha a sensação que alguém me observava, mas não conseguia ver de onde ou o que era. Cada minuto era desesperador e sentia algo cada vez mais perto. O silencio era aterrorizante, conseguia ouvir facilmente as batidas do meu coração e aposto que se eu pudesse me concentrar naquele momento ouviria o barulho da minha corrente sanguínea. Alguma coisa estava vindo à minha frente, eu sentia sua presença, não era algo agradável. Pude perceber duas esferas brilhantes, elas estavam paradas, ou melhor, me observando, eram olhos. Aquilo ficou imóvel durante algum tempo, mas quando percebeu meu medo, soltou um grito tão agudo e estridente, que me deixou desnorteado, aquilo veio na minha direção como um predador atrás da sua caça. Eu queria gritar, mas eu não tinha voz, estava completamente indefeso, até que algo gelado me agarrou...

          - Querido, querido. Acorda... Você esta sonhando.

          Acordei suado e gritando, meus batimentos muito acelerados e meu corpo tremendo muito devido ao medo. Olhei para o lado procurando os braços da minha esposa atrás de um conforto, mas ela não estava lá. Estava morta a pouco mais de seis meses, de uma maneira misteriosa, desde então, tenho tido esses pesadelos. Não conseguia controlar minhas lagrimas e mesmo com tudo isso, aquilo estava ali, sentado na ponta da minha cama, me olhando, me examinando. Seu corpo magro e deformado, pele pálida, meio acinzentada, totalmente virada para frente, aquilo falava alguma coisa que eu não conseguia entender, sua voz estridente machucava meus ouvidos, aos poucos a criatura começou a virar sua cabeça para mim até eu conseguir fitar seu rosto, percebi que em seus olhos, não se via nada, somente o medo e a escuridão, eram bolas totalmente negras que às vezes pareciam brilhar. Toda a noite aquilo estava ali, esperando alguma coisa.

...

          Meu nome é Tiago, há pouco mais de seis meses, minha esposa morreu repentinamente de uma doença misteriosa, nenhum médico soube dizer o que aconteceu e como ela foi tão rápido. Ela começou a adoecer aos poucos, fizemos vários exames, procuramos vários especialistas, mas não importava, todos tinham a mesma conclusão de que ela não tinha nada. Clinicamente estava ótima, mas a cada dia ela ficava pior. Ela tentava me dizia algumas coisas impossíveis de acreditar, falava uma entidade a estava matando, drenando sua energia, sua vida, que a perseguia, praguejava contra ela e todos que amava e que eu devia acreditar. Mas por causa da minha descrença no divino e todas as suas fantasias, pensei que minha esposa estava surtando e não levei a serio o que ela dizia, assim como muitos outros.

          Ela se chamava Erica, eu a conhecia desde quando éramos adolescentes e naquela época já sabia que ela era a minha alma gêmea. Lembro como se fosse ontem a primeira vez que a vi. Eu um garoto bobo de cabeça baixa na cadeira, nunca havia gostado de ninguém, até que senti um cheiro de flor passar, foi quando reparei a garota mais linda que eu iria ver em toda minha vida e por sinal meu primeiro e único amor. Por muito tempo esse sentimento ficou escondido em meu interior, não deixava ninguém saber, talvez fosse pelo medo de não ser correspondido, de não superar as expectativas dela ou do os outros ao nosso redor. Nós, humanos, passamos tanto tempo nos preocupando com o que os outros pensam que nossas decisões acabam sendo influenciadas e acabamos deixando de viver muitas coisas maravilhosas pelo simples fato de termos medo de tentar e mostrar para o mundo quem nos realmente somos. Isso acontece com todos em algum momento, e claro, aconteceu comigo.

...

          Anos mais tarde, mais maduro e confiante, nos reencontramos, reuni coragem e a convidei para um café e após isso, começamos a sair, depois a namorar e um pouco mais tarde nos casamos, apesar de ter sido rápido, foi a época mais feliz da minha vida, até o dia que ela morreu em meus braços quando tentava pedir ajuda no hospital mais próximo da minha casa.

          Após a sua morte, o meu mundo desabou, não conseguia trabalhar, não conseguia conversar com ninguém, minhas refeições eram antidepressivos com grandes doses de conhaques ou qualquer outra coisa que tivesse álcool e que pudesse amenizar a minha dor. Com o tempo, os amigos foram me esquecendo, as pessoas param de ligar para saber como eu estava indo, os vizinhos param de bater na minha porta, eles deviam achar que eu estava bem, já tinha passado tanto tempo, afinal, é fácil levantar e seguir em frente, esquecer alguém que você tanto amou é muito fácil, não é mesmo? No fundo, ninguém sabe o quão grande é essa dor, até que a corda esteja apertando o seu próprio pescoço. E no meu caso doí muito mais, quando mais ela precisou de mim, quando mais ela me pediu ajuda, justamente no momento em que eu devia segura-la no meu colo e proteger de tudo e todos, eu virei as costas, a tratei como louca e negligenciei sem sofrimento. É minha culpa ela esta morta, e essa coisa sentada na ponta da minha cama é o meu castigo por ter abandonado o meu grande amor.


          Deus, sinto muito a falta dela...

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3 Responses to “Pesadelo.”

  1. Anônimo says:

    Esta melhorando a ideia, vamos ver como vai prosseguir.

  2. Anônimo says:

    Curti esse capítulo.

  3. Que bom, espero que continue gostando também dos próximos. Muitas surpresas aguardam o Tiago e os outros personagens.

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